De stilte rond Christine M., 1982
Marleen Gorris
Países Baixos
Por que a escolha?
Três mulheres "comuns" que nunca se viram são presas por terem cometido um crime. Elas assassinaram, aparentemente sem razão e brutalmente, o dono de uma loja de roupas. Janine, a psiquiatra designada pelo tribunal para seguir o caso, examinará e analisará essas mulheres – uma dona de casa, uma garçonete e uma secretária – para determinar o estado de saúde mental delas.
No começo, Janine imagina, como todo mundo, que as rés agiram sob algum tipo de insanidade temporária ou permanente. Mas, ao longo das sessões, a psiquiatra vai percebendo que todas elas foram menosprezadas, reprimidas, estigmatizadas ou até atacadas diretamente por homens, fossem eles chefes, maridos ou clientes. O crime surpreende e muda a subjetividade da psiquiatra na medida em que não manifesta um problema individual, mas uma opressão sistêmica avassaladora que, obviamente, é invisível aos olhos dos homens misóginos que intervêm no caso. As três mulheres não são loucas, assumem a autoria do crime, mas não conseguem ou não querem explicar por que mataram.
Uma Questão de Silêncio, o provocativo primeiro projeto da cineasta neerlandesa Marleen Gorris (1948), impressiona pela forma feroz e implacável com que ela comunica sua mensagem feminista. Olhares profundos e longos silêncios mostram claramente que, como coletivo, as mulheres não suportam mais os sofrimentos que padecem sob o patriarcado. Por fim, é um riso irônico e zombeteiro, amplamente compartilhado por todas as mulheres presentes no dia do julgamento, que quebra o silêncio e dá por encerrada a narrativa.
Ficha técnica