Por que a escolha?

Esta história distante no tempo e pequena no tema e na duração, faz parte de um trabalho ambicioso de várias peças sobre os Estados Unidos realizado por Arnaud des Pallières. Usando imagens do enorme arquivo fílmico Prelinger, composto de filmes institucionais, publicitários, familiares e jornalísticos do século 20, des Pallières resolveu fazer um retrato detalhado dos Estados Unidos, do sonho americano, da ambição, da ilusão, do delírio e das misérias desse país imprescindível e inabarcável.

Dentro desse mosaico, como uma espécie de germe do processo, surge Diane Wellington. Dezesseis minutos de cinema mudo sobre o desaparecimento de uma menina de 16 anos no Estado de Dakota do Sul, em 1938. As imagens da época se sucedem, uma após a outra, e insistem no frio, nos rostos, nas ruas e na vida de uma pequena cidade no início do século 20. Acompanhadas de música, as imagens só são interrompidas por uma narração escrita na qual des Pallières nos conta a história de Diane Wellington, quem era, como era vista por seus pares e como um dia desapareceu, sem deixar rastro, e sem que ninguém se importasse muito com seu destino.

Ocupada em descrever a indiferença, o contexto e a terrível e imprevisível descoberta final, a narração de des Pallières resgata o tempo, ativa a memória e, nesse presente permanente que é o cinema, coloca no coração de seu retrato americano esta história comovente sobre a solidão absoluta de uma menina abandonada por tudo e por todos no meio de um campo nevado em Dakota do Sul.