Por que a escolha?

O grande cinema Fuhe, no distrito de Taipei, está abrindo suas portas pela última vez. Uma jovem com dificuldades de locomoção perambula por todos os cantos de um cinema quase vazio em busca do projecionista. Ela examina os espaços, descarta tudo o que está caindo aos pedaços e procura manter um espaço que é muito maior do que o que ela consegue administrar. Também há homens perambulando por ali. Um deles fica mudando de lugar, em busca de contato. Esbarrar em outros corpos parece ser sua maneira de se sentir vivo. Os outros parecem estar participando do ritual silencioso do cruising. A solidão e a melancolia dos personagens são palpáveis. O desejo permeia todas as interações. Dizem que o teatro é mal-assombrado, porém mais do que espíritos maléficos, os habitantes incorpóreos do espaço são os fantasmas da saudade, da nostalgia e do anelo.

Adeus, Dragon Inn é um exercício de contemplação. A câmera é quase estática e os personagens parecem se mover em uma coreografia, dançando com o silêncio. O cinema tornou-se um espaço liminal, quase desabitado. Agora as pessoas preferem outro tipo de filme e o lugar ainda se vê grandioso como outrora. As goteiras e a chuva incansável perfuram tudo em seu caminho. Planos amplos e fixos produzem um efeito de imersão sob vários pontos de vista. Mostrar e apresentar a sala de muitas perspectivas cria uma ilusão de onipresença para o espectador. Quem observa também se transforma em espectro que vaga entre os corpos. Na ausência de diálogos e interações verbais entre os personagens, os sons do ambiente ressoam e constroem a paisagem narrativa.

A simplicidade e a poesia visual de Tsai Ming-Liang entregam uma história construída por detalhes. Adeus, Dragon Inn não tem uma resolução definitiva, prefere deixar a marca de muitas emoções e é um estudo poderoso sobre a saudade, a melancolia e o desejo humano de conexão.