Por que a escolha?

Mercedes Gaviria, designer de som colombiana que mora em Buenos Aires, vai para a Colômbia ajudar o pai, Víctor Gaviria, nas filmagens de La mujer del animal, filme no qual ele trabalha há anos. O filme conta de maneira crua a história de uma mulher abusada durante anos pelo marido. A produção, que tem lugar em um bairro precário, é enorme e ambiciosa, com ritmos aos quais Mercedes não está acostumada. Depois de anos trabalhando em Buenos Aires, em produções muito mais tradicionais, Mercedes se sente contrariada com a obra do pai, tanto pela maneira em que ele retrata a violência sexual, quanto pela forma em que ele faz seus filmes.

Mercedes acerta contas com o pai, mas o faz pelo amor que tem por ele, longe da abordagem banal do "parricídio simbólico". Sua estratégia é outra, bem mais astuta, baseada na política dos afetos. Para isso, ela também precisa ampliar o enquadramento de seu filme e retratar a mãe, a avó e o irmão. Recorre, então, aos arquivos da família, e encontra um retrato familiar complexo: um pai poeta, uma mãe abnegada e sensível que mantém um diário cheio de preocupações femininas, uma avó mordaz e um irmão que foge das imagens e questiona a pulsão paterna, compartilhada por Mercedes, de produzir imagens.

Em A Calma Depois da Tempestade, Mercedes Gaviria é confrontada com dois tipos de imagem –ambas produzidas pelo pai–: as do cinema industrial e as caseiras. Nesse embate ela encontra uma síntese que reflete sua própria ambição como cineasta. Embora continue interessada em fazer cinema, sua abordagem é mais horizontal, atendendo à influência de sua vida íntima e familiar.