Por que a escolha?

Em O Funeral das Rosas, Toshio Matsumoto oferece uma adaptação de Édipo Rei ambientada na cidade de Tóquio nos anos 60. O filme acompanha Eddie, uma trabalhadora sexual trans, enquanto ela se encontra com os vários personagens que compõem a paisagem do seu cotidiano. No desenrolar do seu dia a dia, podemos observar as experiências traumáticas do seu presente e que a enfraquecem cada vez mais até chegar a desencadear uma série de eventos sórdidos que a levam a seguir os passos de Édipo.

A construção narrativa parece nos antecipar as tragédias que se sucederão ao longo de todo o filme. Matsumoto nos deixa pistas em suas decisões nunca aleatórias de edição e montagem, nos cartazes das ruas, nos objetos e nas expressões dos personagens.

O filme se inscreve na tradição rupturista da nouvelle vague, mas, neste caso, Matsumoto incorpora um amplo arco de recursos para narrar uma história perturbadora. Collage, fotomontagem, flashbacks, entrevistas em estilo documental e videoarte fazem parte da paleta que compõe o filme.

Por meio de todos esses dispositivos, o diretor dialoga com uma realidade em crise e transformação. Ele nos mostra uma juventude contracultural emergente que utiliza o cinema, o sexo e as drogas para estimular a criatividade e se distrair de um contexto marcado pela guerra do Vietnã e por múltiplas revoltas sociais. É um retrato irônico, violento e sensual das vicissitudes de uma jovem trans que tenta fugir de seu destino.