Morocco, 1930
Josef von Sternberg
Estados Unidos

Por que a escolha?
Seguindo o padrão do cinema clássico de Hollywood, o de uma mulher presa entre o desejo de dois homens, Marrocos apresenta um triângulo amoroso em um Marrocos exótico: Amy Jolly (Marlene Dietrich), cantora de cabaré, um soldado da Legião Estrangeira (Gary Cooper) e um milionário da aristocracia (Adolphe Menjou). Mas Amy é independente e segura de si, e seu estilo de vida boêmio e seu trabalho como cantora de cabaré desafiam as convenções sociais e a tornam uma figura provocativa e transgressora.
A lenda insiste em afirmar que Dietrich foi descoberta e moldada para o cinema pelo diretor Josef von Sternberg. Mas ao estudar a parceria entre a atriz e o diretor nos seis longas-metragens que filmaram para a Paramount, a pesquisadora de cinema Nuria Bou argumenta que é muito difícil distinguir qual parte de uma interpretação seria mérito do diretor como diretor de cena, e que parte poderia ser identificada como um "achado interpretativo" próprio da estrela, revalorizando assim a importância da figura feminina.
Em um dos momentos mais memoráveis do filme, no meio de uma apresentação em uma boate, Amy seduz uma mulher com o olhar. Ela sorri maliciosamente e a beija na boca. Amy-Marlene domina a atuação, mesmo vaiada pelo público, confiante e arrogante, vestida com seu icônico smoking, ambígua, andrógina e invulnerável.
Motorizar a imaginação erótica dos espectadores, homens e mulheres, era um dos principais objetivos dos filmes da década de 1930, que continuaram a desafiar o público mesmo após a imposição do Código Hays em 1934. Marlene Dietrich, que começou imitando o glamour padrão de Greta Garbo, a partir de Marrocos explorou novas atitudes diante da câmera, rompendo sutilmente os papéis tradicionais de gênero ao subverter a ordem heterossexual de quem seduz e quem é seduzido, contribuindo assim para o discurso sobre a feminilidade no cinema do início do século 20.
Ficha técnica