Riddles of the Sphinx, 1977
Laura Mulvey & Peter Wollen
Reino Unido
Por que a escolha?
O enorme sucesso de Laura Mulvey (1941) como ensaísta às vezes ofusca o fato de o seu pensamento também ter sido acompanhado por uma rigorosa e ousada incursão no cinema em que procuraria pôr em prática algumas das ideias expostas no seu ensaio Prazer Visual e Cinema Narrativo, publicado em 1975 na revista britânica Screen, e em outros escritos seus. Juntamente com o também teórico e escritor britânico Peter Wollen faria quatro filmes, dos quais talvez o trabalho mais notável seja Enigmas da Esfinge. Nesta obra fundamental do cinema feminista de vanguarda, Mulvey e Wollen utilizam diversas técnicas das artes modernistas para refletir sobre a posição social e política da mulher na sociedade contemporânea, sempre mediada pela obrigação de realizar trabalhos de cuidado não remunerados.
O filme apresenta, mas não dramatiza, a história de uma dona de casa que gradualmente começa a ter interesses políticos enquanto reflete sobre sua própria opressão diária. A própria Laura Mulvey aparece no filme teorizando. No primeiro ato, falando diante da câmera, ela explica que sua obra será narrada pela esfinge, criatura mitológica, extremamente complexa. No mito de Édipo, a esfinge, constituição híbrida de humano, animal, ave, faz perguntas aos homens da cidade de Tebas. E devora aqueles que não respondem corretamente. Consequentemente, conclui Mulvey, a esfinge, com suas perguntas, ameaça a ordem patriarcal.
Usando elementos totalmente estranhos ao cinema narrativo hollywoodiano, o filme se opõe à representação da mulher como objeto erótico, rejeitando enfaticamente essa maneira de enxergá-la. Em vez disso, se aventura na experimentação de códigos formais não voyeurísticos. Esta obra se distingue pela recusa em aderir ao conforto e à plenitude narrativa do paradigma convencional e predominante explorando, em vez disso, novos caminhos estilísticos e discursivos.
Ficha técnica