Por que a escolha?

A expansão colonial europeia, a partir do século 15, não poderia ter sido alcançada sem o surgimento de novas técnicas arquivísticas. A imposição do domínio sobre vastas extensões de território em outros continentes foi acompanhada pela acumulação de documentos, mapas, imagens e objetos que tornaram possível representar as culturas, pessoas, bens e lugares sobre os quais o poder imperial se estendeu. Tornar transparente essa articulação entre colonialismo e arquivo tem sido o objeto de grande parte das investigações da artista inglesa de origem nigeriana Onyeka Igwe.

Em We Need New Names, Igwe examina os arquivos de vídeo do funeral da matriarca de sua família e os compara com arquivos etnográficos históricos do acervo de imagens da colônia imperial britânica. O contraste das representações levanta questões sobre a própria identidade da diretora. No arquivo colonial prevalece um olhar solene e exótico que situa seus ancestrais no espaço de “objeto de estudo"; as imagens produzidas pelos próprios nigerianos, muito pelo contrário, carecem de solenidade. Elas mostram o funeral de sua avó como uma grande celebração.

O contraste dessas imagens deixa a diretora perplexa e ela se vê forçada a interrogar sua própria identidade como mulher nigeriana na diáspora. Igwe questiona sua própria percepção e reação às imagens, e isso a ajuda a perceber como a herança de seus ancestrais também está em seu corpo. Isso a leva a tomar consciência de como sua presença na Europa parece afirmar certas crenças no olhar do outro, e como esse olhar, às vezes bem-intencionado, reproduz aquilo que ela lê no arquivo imperial.