
The Land of Little Rain, 1903
Mary Hunter Austin
Estados Unidos
Por que a escolha?
Ao evocar os nomes que formam a base da chamada nature writing americana –corrente literária clássica, profundamente poética e pragmática, dedicada à contemplação vitalista do ambiente natural e de sua relação com os seres humanos–, os primeiros a serem mencionados são Thoreau (Henry David), Muir (John) e Emerson (Ralph Waldo). Mas junto a eles devem sempre ser citados os nomes de (pelo menos) duas mulheres: Susan Fenimore Cooper e, antes de qualquer outra, Mary Hunter Austin (1868-1934), poetisa, romancista, dramaturga e uma das primeiras referências do ecofeminismo e do ativismo pelos direitos civis e pela autodeterminação dos povos nativos americanos.
Ao gesto masculino do "pioneiro" branco, do homem que se vê a si mesmo isolado e autossuficiente, que ao mesmo tempo admira a natureza e se impõe a ela, que a conquista e domina pela via da devastação ou, como os homens da nature writing, por meio do despojamento, da sobrevivência sem máquinas, Austin contrapõe um olhar feminino. A autora contrasta essa postura romântica masculina com uma comunicação especificamente feminina, em que a premissa não é contemplar presunçosamente a paisagem nas colinas, como na famosa pintura a óleo Caminhante sobre o mar de névoa (Der Wanderer über dem Nebelmeer), de Caspar David Friedrich, mas afirmar a vida nos vales e nas planícies onde os riachos se formam e em outros lugares de pouca água onde os animais vão beber.
Por isso, o protagonista de The Land of Little Rain não é a floresta nem a montanha, onde os caminhos são formados pela exploração madeireira, mas o deserto silencioso, onde os caminhos assumem a forma das pegadas de pequenos mamíferos em busca de água e abrigo, e onde o alimento é encontrado pelas aves do céu, que só podem ser vistas de baixo. Assim pensam os Shoshone, os Mojaves, os Paiutes e outros povos originários do oeste americano, cuja memória é mantida e transmitida por mulheres como Seyavi, a cesteira que cria o filho sozinha no deserto e inspira o espírito independente das histórias de Austin.
Ficha técnica