Por que a escolha?

“Sofonisba Anguissola, a donzela solteira, pintou isto ela mesma”, diz o livro que está nas mãos de Sofonisba Anguissola (1535-1625), uma das primeiras pintoras e uma das artistas mais proeminentes da Itália no século 16.

Desde muito jovem aprendeu a pintar em ateliês de artistas renomados como Bernardino Campi e Bernardino Gatti. Devido aos limites que o fato de ser mulher impunha à sua formação artística – a impossibilidade de estudar anatomia e desenhar o corpo humano com modelos reais – aperfeiçoou suas capacidades como retratista. Ela se tornou especialista no gênero e uma das mais importantes da sua época, tanto na Itália como na Espanha, onde foi pintora da corte do rei Felipe II da Espanha e professora da rainha durante catorze anos.

Antes de partir para a Espanha realizou uma das suas obras mais conhecidas, Partita a scacchi, um retrato de três de suas irmãs jogando xadrez. É uma obra que quebra os preconceitos da época sobre a falta de inteligência e racionalidade das mulheres. Ela as retrata em uma atividade então reservada aos homens. É o que faz também em seus auto-retratos, conjunto de obras de grande relevância não só pela quantidade, mas pelas ações que neles representa, ações nas quais ela se pinta como se via e como queria ser vista: pintando em Autoritratto al cavalletto; tocando um instrumento em Autoritratto alla spinetta; ou segurando o livro em que se define como solteira e pintora em Autoritratto. Era isso que ela queria ser e o que foi.