Por que a escolha?

O retrato do corpo andrógino fez de Romaine Brooks (1874-1970) uma figura-chave para que as múltiplas identidades, a igualdade de gênero e a diversidade sexual fossem reconhecidas no início do século 20. Suas relações afetivas com mulheres e seu estilo masculino de vestir foram o símbolo de sua ruptura com as identidades impostas. Autorretratos e retratos femininos, incorporando elementos masculinos e andróginos, e imagens de mulheres fortes e empoderadas foram os temas centrais de sua produção artística.

Self-Portrait, Una, Lady Troubridge e La France Croisée são obras emblemáticas e reveladoras da sua busca emancipatória. Self-Portrait é a imagem de uma artista segura, que olha de frente, vestida com traje equestre, luvas e cartola, atavio que não apenas rompia com os códigos convencionais de feminilidade da época, mas também abria as comportas para a indeterminação sexual. Una, Lady Troubridge é o retrato de uma amiga da artista vestida com camisa branca, paletó preto e calça listrada, de pé, monóculo e expressão penetrante de controle, segurando um cão pela coleira. “Uma marca da época que pode divertir as futuras feministas”, foram as palavras da artista para descrever essa obra. Em La France Croisée, retrato de Ida Rubinstein, atriz e bailarina ícone da Belle Époque, Brooks coloca a mulher na posição de heroína. Rubinstein, de casaco preto com o símbolo da Cruz Vermelha e a cidade belga de Ypres em chamas atrás dela, personifica a França durante a Primeira Guerra Mundial.

O desafio às convenções sociais que caracterizou o trabalho de Romaine Brooks, e sua abertura à identidade variável e à liberdade sexual tornaram-se relevantes no fim da década de 1980 em virtude do interesse que seu trabalho despertou no âmbito dos estudos de gênero e sexualidade, bem como no das abordagens feministas, lésbicas e queer.