Por que a escolha?

Nan Goldin (1953) captou momentos de intimidade, amor, sexualidade e violência sem nenhuma reserva e com crueza. As raízes de seu trabalho artístico estão nos anos em que frequentou o bar The Other Side, um lugar seguro para drag queens e pessoas trans, o “outro lado” da sociedade, que Goldin tem defendido ao longo da vida. Instalada em Nova York, ela continuou documentando pessoas próximas e exibindo suas fotografias em casas noturnas e cinemas, em um processo que foi apresentado em Balada da Dependência Sexual, uma instalação multimídia de 45 minutos com mais de 600 diapositivas acompanhadas por uma trilha sonora. Um trabalho cumulativo, em constante expansão e modificação.

Alguns dos personagens de suas fotografias, amigas, amigos ou amantes, são repetidamente retratados interagindo em encontros sociais, seminus na privacidade de quartos ou banheiros, olhando para a câmera, frágeis e provocantes ao mesmo tempo. Entre muitas fotografias, destaca-se uma de suas peças mais marcantes: um autorretrato em que Goldin expõe os resultados da surra que levou de seu companheiro. Na imagem de seu próprio rosto desfigurado, na denúncia representada nessa fotografia, ela transforma sua situação pessoal em um fato público, e o faz quando esse tipo de violência –a privada, a doméstica– ainda não tinha adquirido o caráter público e político que tem hoje.

Seu olhar sobre a transexualidade, a epidemia de AIDS, o uso de drogas e a violência de gênero expressado em Balada da Dependência Sexual reflete primeiramente um diário pessoal e sensível do que acontece ao seu redor e, posteriormente, um registro da multiplicidade humana que habita o mundo. Uma multiplicidade que às vezes matiza, às vezes acentua as linhas divisórias da normalidade idealizada, das diferenças entre homens e mulheres, entre o público e o privado, entre o pessoal e o político. Todas as dicotomias que são desafiadas pela fotografia imediata de Nan Goldin.