Por que a escolha?

Porque com um sólido desenvolvimento teórico, Adrian Piper (1948) mostrou que a dicotomia da luta para ser mulher ou ser negra é falsa. Piper move-se confortavelmente entre disciplinas e aborda, do ponto de vista do conceitualismo artístico, e com igual destreza e impulso, o problema do gênero e o da raça. Desde muito cedo expôs o racismo e a exclusão sistemática das mulheres e das pessoas afrodescendentes nas instituições artísticas e na sociedade em geral.

The Mythic Being um projeto no qual seu alter ego masculino podia se expressar. Provocativa e desafiadora, ela condensa nesta obra todos os preconceitos sobre os afrodescendentes. O projeto inclui fotografias, desenhos e performances de rua em que a artista, disfarçada, observava como a cor de sua pele modificava a percepção que os transeuntes projetavam sobre ela.

I Embody Everything You Most Hate and Fear mostra os estereótipos que a grande mídia criou e reproduziu sobre a população afro nos EUA nos anos 60: um suposto ser agressivo, ameaçador, sujo e malvado. Piper expõe essas ideias e produz pensamento crítico: estabelece que as representações construídas sobre a comunidade negra contribuíram para sua criminalização, legitimaram a violência contra ela e consolidaram o ostracismo, a degradação e a reclusão dos afrodescendentes a determinadas esferas.