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  • Origem e delação do patriarcado na Bíblia

    Ensaio sonoro

    por Carolina Sanín

    Ao homem Ele disse: “Porque ouviste a voz da tua mulher e comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer, amaldiçoado será o solo por tua causa. Com sofrimento tirarás dele o alimento todos os dias da tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e ervas daninhas, e tu comerás das ervas do campo. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até voltares ao solo, do qual foste tirado. Porque tu és pó e ao pó hás de voltar”.

    A mulher é responsável pelo tempo, nosso inimigo é o tempo. O que esse mito está dizendo é que o tempo é culpa da mulher. O homem é condenado ao tempo de trabalho e o tempo de trabalho é o tempo. Quando o tempo é criado, por culpa da mulher cria-se também o trabalho e, além do mais, a morte. Uma morte que aqui é “voltar ao pó de onde se nasceu”, ou seja, voltar para a mãe de onde se nasceu. A mãe é a certeza de que vamos morrer porque temos que voltar para o lugar onde nascemos e a mãe é o solo, e também o útero. O fato de virmos de dentro de um corpo, da invisibilidade do interior de um corpo, nos diz que vamos acabar dentro de outro corpo, que é o corpo da terra, invisíveis dentro da terra.

    Entre os muitos horrores que as mulheres fizeram – serem administradoras das identidades dos homens, serem mentirosas, etc – está também nada menos que esta: ser a recordação da morte e ser a prova de que tudo tem que morrer e se decompor invisivelmente.

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    Edição e design de som: Laura Martínez Duque e Nadina Marquisio

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